sábado, 20 de julho de 2024

Guto, uma autobiografia meticulosamente inacabada

 


I. Introdução

Toda ousadia será recompensada, parodiando o indefectível imortal Nelson Rodrigues[1].

Desde o meu nascimento, na metade do século passado, convivo com pessoas incríveis. Aos 20 anos, namorei (sem ela saber), a moça que se tornaria uma das figuras mais conhecidas do Brasil[2] (senão, a mais conhecida!): a Gina[3], que continua em evidência até hoje, imortalizada de forma inusitada há 5 décadas na estampa da embalagem de um produto de higiene bucal.

Outro amigo que tive na vida, o ator Paulo Pompeia[4], que dirigi no teatro, também teve sua imagem reconhecida por décadas na caixa dos cigarrinhos de chocolate Pan[5].

E fui namorado por uma professora[6] escritora[7] de contos eróticos, (até virei um conto)[8], e a ajudei a escrever alguns dos seus melhores e piores contos, a maioria impublicável.

Estive em palácios de governos, embaixadas e dormi nas ruas de Paris. Fui ovacionado e recebi ovo na cabeça. Amei muito e fui muito amado. Tive quatro filhos maravilhosos e esposas idem, em 5 casamentos desfeitos, incontáveis relacionamentos conturbados, e sofrimento imaginável e inimaginável envolvido em tudo isso. Como estilo literário minha vida foi surreal, com realismo lírico, tragicômica, grandiloquência impressionista, capítulos de pura ficção científica, momentos de cinema mudo e episódios bizarros.

Trai e fui traído. Fui rejeitado na infância, na adolescência, na idade adulta e na velhice. Fui desprezado, humilhado, incompreendido, assediado, violentado, agredido e ameaçado, graças a inúmeros transtornos não laudados. Fui ridicularizado, perseguido e reverenciado à exaustão. Nem sempre nessa ordem. A minha autobiografia só começaria a ser escrita aos 80 anos, mas por insistência de alguns amigos, dois em especial – Armando Nembri[9] e Marcos Besserman[10]; começo 10 anos antes correndo todos os riscos que isso representa. Com certeza, morrerei sem completá-la, mas prometo voltar na próxima encarnação para fazê-lo.

Mas, sei que valerá a pena, pois minha alma não será pequena[11], uma vez que o corpo já não terá tanta serventia. Tenho anjos da guarda fortes de asas esfaceladas de tanto me protegerem, e uma resiliência “chacrin[12]/bussúndica[13]” inabalável. Essa filosofia tem me ajudado no enfrentamento diário da bizarrice da paisagem humana. Não dá para encará-la de cara limpa, sem se divertir. Encontro muitas desculpas para não ter começado esta autobiografia antes. Uma delas, talvez a principal, é que aprontei muito na vida. Mas, muito mesmo[14]. Espero que esta biografia soe como um pedido de perdão.

A garantia de estar mais seguro depois dos 80, se vivo estivesse, era de que os meus desafetos e maridos traídos estariam todos mortos, pois gente boa morre cedo. Como fiz muita gente sofrer e fui uma pessoa socialmente má, estou condenado a viver muito, para pensar em tudo o que fiz de errado.

Combinei com o meu filho Pedro que viverei até o 108 anos, e ele aceitou. Com a condição de ir até os 105 com lucidez e energia. Depois, quero passar 3 anos descansando, me preparando para morrer em paz, segurando na mão dele. Se isto não acontecer, terá sido mais uma rasteira do Destino, de tantas que tomei na vida. Ele também aceitou que isso pode acontecer. Até lá, continuarei sendo ousado. E, agora mais atrevido do que nunca, uma vez que em 2023, entrei em primeiro lugar na ENSP, Escola da Fiocruz, e hoje sou professor licenciado convidado na pós-graduação (por irresponsabilidade do Besserman e do Nembri), depois de 3 especializações terminadas, 11 cursos de Ciência Aberta concluídos lá mesmo na ENSP/Fiocruz, e mais trocentos cursos interrompidos em várias partes do mundo, o mais recente, o de mestrado em Engenharia de Produção. Como professor, eu professo o futuro; não ensino, demonstro; não educo, sou educado; não adestro, conduzo; não ensino a ser, sou e faço. Tudo com muito bom humor, pois o ser humano é bizarro, quando está de frente. De lado, também. De costas, então, nem se fala!

Subverto a própria transgressão, de forma dialética, retórica, subliminar e sub-reptícia, e isto tem dado certo há bastante tempo com meus alunos de todas as idades que trabalhei. Até hoje, não tomei nenhum soco na cara de aluno, e fui um professor homenageado em várias formaturas. Então, estou fazendo certo, optando por ser cada vez mais ousado e fora do padrão nas minhas escolhas de temas, sempre em busca da verdade científica, doa a quem doer. Como diriam os políticos sábios.

Tudo aqui foi de verdade. Embora saiba que toda verdade é absolutamente relativa. “Toda verdade passa por três estágios. Primeiro, é ridicularizada. Segundo, é violentamente combatida. Terceiro, é aceita como sendo autoevidente.” – Arthur Schopenhauer. Busco provocar a reflexão ousada sobre a verdade. E a ousadia se mete em tudo. Quem é ousado enfia a sua ousadia onde quer que vá em tudo e dá certo! (na maior parte das vezes!). Os anais da História comprovam isso. É nos anais da posteridade que a introdução dessa autobiografia quer penetrar. E trazer todos que viveram essa história. Como coadjuvante, estive a maior parte da vida nos bastidores, o meu ambiente natural, mas sempre operando os holofotes. Afinal, todos precisam de firmeza na retaguarda e uma mão forte por trás, senão não chega a lugar nenhum. Antes, disso, espero que todos os atores que contribuíram com seus personagens nessa história de semificção de vida e foram cúmplices nessa caminhada aceitem, autorizem, não se oponham em revivê-la. Espero que gostem dessa introdução para romper o tecido da imortalidade. Afinal, o nome de cada uma dessas pessoas estará escrito nos próximos capítulos para sua alegria, angústia e pavor. Desde já, sei que muitas críticas, xingamentos e ameaças de morte virão. E, vida que segue, se vida houver e deixarem, é claro! Mas, pelo menos, nos divertiremos e nos desculparemos pelas falhas de memória, sabendo que em algum momento, fomos felizes de verdade.

FIM DA INTRODUÇÃO

-----------------------------------------------------------
Leia autobiografia completa: (Link encurtado: https://bit.ly/4c0mSaR )


CAPÍTULO FINAL

Deixo algumas considerações, promessas e ameaças ao reler essa autobiografia:
1. Há muito o que se lapidar, mas prometo morrer logo assim que esta autobiografia receber a
autorização para penetrar nos anais da posteridade;
2. Um palavrão novo que aprendi lendo essa autobiografia: “Vá estudar na fonte que o
pariu!!!
3. Uma constatação obscena: “Ousadia se enfia e se mete em tudo, obviamente, onde não é
chamada!”
4. “Só existimos, quando incomodamos!”
5. Esta é uma obra meticulosamente inacabada, subliminar, entrelinhas, sub-reptícia, tão
imperfeita e bizarra como o é o ser humano, mas é também apenas o medo da solidão que
permeia a todos nós, coletivamente.
6. Antes do ponto final, aceito sugestões de frases criativas para a minha lápide. Espero que o
meu túmulo seja visitado diariamente por desvalidos criativos bem-humorados, como eu
fui; desimportantes, como eu fui e ainda sou. Para lerem as frases e inspirarem-se; sabendo
que logo mais, também estarão ali comigo. Assim, nunca mais serei sozinho.

O Autor (ainda anônimo).

[1] Toda nudez será castigada, de Nelson Rodrigues (1965). Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Toda_Nudez_Ser%C3%A1_Castigada Acesso em 15 de julho de 2024.

[2] Guto, como modelo fotográfico em editorial de moda, aos 20 anos. Foto disponível em: https://drive.google.com/file/d/12Vm7x1GAq47EC147naMvaMXEquXbf02k/view?usp=sharing Acesso e 14 de julho de 2024.

[3] Gina. Foto disponível em: https://drive.google.com/file/d/1LqLyofVndRjmSdrkuNz_Uep12EjF5Njm/view?usp=sharing

[4] Paulo Pompeia, na foto entre o meu filho Demian Maia e minha nora, Renata Maia, na peça “O Dodói da Gigi”, prêmio PROAC, adaptada do livro do jornalista, Chico Alves, e dirigida por mim. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/14fUGLSBTje6XVezrHm7rCAbTGq1IDsoj/view?usp=sharing Acesso em 16 de julho de 2024.

[5] Paulo Pompeia, ator. Detalhe: Paulo Pompeia nunca fumou na vida. Foto disponível em: https://drive.google.com/file/d/1lPl-2Gfdul3vfdG_wJpTSp3-6O1RFfjr/view?usp=sharing Acesso em 14 de julho de 2024.

[6] Marcia Denser, Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, é pesquisadora de literatura e jornalista. Foi curadora de literatura da Biblioteca Sérgio Milliet em São Paulo. Professora Oficina Literária (1990), Oficina Mário de Andrade. Disponível em: https://congressoemfoco.uol.com.br/reportagem/como-escrever-um-conto/ Acesso em 14 de julho de 2024.

[7] Marcia Denser, escritora, professora de ficção e literatura, autora do conto “Cometa Austin”, publicado no livro "Toda Prosa", da editora Record. Disponível em: https://www.tyrannusmelancholicus.com.br/prosa/cometa-austin/3669 Acesso em 14 de julho de 2024.

[8] Cometa Austin, por Marcia Denser (2008). Disponível em: https://congressoemfoco.uol.com.br/reportagem/cometa-austin/ Acesso em 14 de julho de 2024.

[9] Prof. Dr. PhD. Armando Nembri, epistemólogo, coordenador pós-graduação ENSP/Fiocruz. Disponível em https://bit.ly/3WlPTJh Acesso em 15 de julho de 2024.

[10] Prof. Dr. Marcos Besserman Vianna, médico, coordenador pós-graduação ENSP/Fiocruz. Disponível em: https://bit.ly/4cAK2p8

[11] Fernando Pessoa. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa Acesso em 15 de julho de 2024.

[12] Quem foi José Abelardo “Chacrinha” Barbosa para o Brasil e o Mundo. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1b4wGRkVyy9WQxUMJ4TTjZvWNj5_JMHWK/view?usp=sharing Acesso em 15 de julho de 2024.

[13] Quem foi Bussunda para o Brasil e o Mundo? https://drive.google.com/file/d/1R2rBKnZCIcrjdU83d0Mg65Vk03kHZU1R/view?usp=sharing

[14] Minha Vida, num Link. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1tVNAe7vPtgFNkeRRYN204-01y0cMNOlm/view?usp=sharing Acesso em 15 de julho de 2024.